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terça-feira, maio 24, 2005

Esperando o dia fechar

Outro fechamento.
Mais uma revista que vai embora sem que eu sinta o mínimo orgulho dela.
Fiz meu ofício como quem faz suas necessidades fisiológicas.
Talvez até porque ambas tiveram os mesmos resultados.
Não quis nem rever, nem reler. Tô de saco cheio.
E, quem diria, tô aqui escrevendo.
É curiosa essa ironia da minha vida.
De repente, solto mais um post.
Tão fisiológico quanto outro.
Aquela tremenda vontade de fazer.
E agora, só a vontade de apertar a descarga.
Mas na falta disso, vamos de Publish Post mesmo.
Publique-se. É o que disse o diagramador.
Não foi pro post. Foi pra revista.
Mas vou fingir que é praqui mesmo.
FIM.

segunda-feira, maio 09, 2005

Sexo, croissants e ruas desertas

Título com três partes que não tem nada a ver sempre parece de intelectual. E o texto abaixo é tipo “meu querido diário”, mas também posso dar um ar intelectualóide dizendo que são percepções do cotidiano, retratadas por sua devida relevância e acaso, cujas simbologias podem criar associações de acontecimentos aparentemente sem nexo.

Sexta-feira, dia 06/05
Hoje tive aula sobre o trabalho de conclusão de curso: fazer uma campanha de marketing. Falava que depende da verba para trabalhar as ações. O professor só esqueceu um detalhe. “Qual o limite de verba?”. Foi o que perguntei.

Ele respondeu entusiasmado: “Essa é uma novidade desse ano. Tem um limite para as verbas. Será um limite mínimo de 200 mil para fazer as campanhas, porque algumas campanhas do ano passado optaram por campanhas com pouca verba”.

Agora aparece aquele balãozinho na cabeça, ou pára todo mundo congelado e eu falo com a câmera:
- Se era novidade, como ele se esquece de contar? Outra coisa: Em que mundo o Mackenzie vive? Em vez de incentivar redução de custo, exige limite mínimo em vez de máximo. Depois não entendem como neguinho sai da faculdade e fica de fora no mercado.

Assim que fez chamada fui pra lanchonete no Terceiro Andar. Para não comer mais que o necessário, só um sanduíche natural de R$ 3,90. E fila do caixa de novo para adoçar a boca com um chocolate. Quanto? R$ 3,50 a barrinha de 50g. Esquece. Ainda bem que a fila pelo menos é de graça.

Associação 1: Aula de marketing que fala para trabalhar com fortunas. Mas deixo de comer um chocolate porque acho absurdo o preço da sobremesa ser igual ao prato principal. Graças justamente ao marketing, tem quem pague.

Continuação
Quando subo para a última aula encontro minha amiga. Chique, bonita – trabalha na revista “Caras” – mas com a maquiagem já borrada de tanto chorar. Acabara de chegar. Tinha brigado com o chefe, que não queria deixar ela ir pra aula.

- Eu não ia fazer nada lá. Ia só esperar o povo “fechar”. Trabalho cada dia mais. Aumento que é bom nada. Efetivar menos ainda.

A primeira coisa que pensei foi na música do Guns’n’Roses, “welcome to the jungle”. Mas fique só no “é assim mesmo”. E preferi não falar de minha vida pra não entrar numa competição de quem sofre mais.

No final, ela me oferece o croissant. Tinha só uma mordida. Ela não queria e ia jogar fora.

Associação 2: Aula de marketing que fala de fortunas. Deixo de comprar chocolate porque acho caro, mas tem quem pague, como minha amiga, que dispensa o croissant, mas chora pelo salário.

Continuação
Peguei o croissant porque odeio desperdício. Resolvi dar para algum dos mendigos que ficam do lado do Mackenzie.

Os mendigos de Higienópolis não perdem a pose e não costumam pedir esmola. Só pedem quando estou mais bem vestido, de traje social ou esporte fino. Como ando mais de calça jeans e camiseta, caminho pelas ruas desertas até meu carro sem ser incomodado.

Hoje, no entanto, eu que me aproximei. Cheguei perto de dois que reviravam os sacos de lixo. Já tinham selecionado caixas com algumas fatias de pizza, pão e outros quitutes.

Mas quem falou comigo foi um terceiro, percebendo que eu estava com uma cara de quem faria solidariedade. E veio com aquele falar enrolado, talvez porque estivesse bêbado.

- Fiquei andando hoje o dia inteiro. E preciso de pelo menos 5 reais para tomar banho, comer e dormir. Você pode me ajudar moço?

Nunca vi mendigo preocupado com banho. Muito menos que conseguisse fazer fizesse tanta coisa com 5 reais. Mesmo assim, ofereci o croissant que ainda estava só com uma mordida. Ele olhou, viu que estava mordido e falou que não.

Com certo ódio pelo menosprezo do mendigo, virei pro menininho que revirava o lixo.
- Tá com fome?
- Tô
- Toma
- Obrigado – e o croissant recebeu uma segunda mordida de alguém realmente com fome.

Associação 3: Não importa a classe. Sempre terão os que evitam desperdício (eu e o menininho), os que querem mais, mas desprezam o que não é suficiente (minha amiga e o mendigo do banho) e os que pensam que estamos em algum país rico (do prof de marketing ao dono da lanchonete).

Dez passos adiante um mendigo se assusta comigo. Protege o pão e a garrafa como se eu fosse roubar dele. Está certo que eu estou de barba, só de calça jeans e moleton. Mas não é para tanto. Eu sorri da situação. Ele sorriu de volta. Disse bom apetite e fui embora. Texto demais para uma só noite.

Ah, sim. Croissant e ruas desertas estão no texto. Só coloquei a palavra “Sexo” no título porque sempre parece algo intelectual ou “cool” tipo...”Sexo, Mentiras e Videotape” ou “Sexo, Drogas e Rock´n´Roll” ou “sex and the City”. Agora, não vai dizer que você leu o texto todo e perdeu esse tempo todo atrás de sexo.

Forasteiros
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