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segunda-feira, outubro 09, 2006

Ensaio sobre as pequenas coisas (1)

Valorizar as pequenas coisas é a chave para a felicidade. Mas a idéia é dar atenção aos detalhes.

Idéia tão comum que publicitários sempre abordam: o toque a mais, aquele quê de especial, algo mais que uma simples (qualquer coisa). Buscam arranjar motivos para o consumidor dizer que escolheu isso em vez daquilo. Enfim, dar uma desculpa racional para a escolha subjetiva.

Curioso é verificar que isso acontece nas relações amorosas. Quando amamos, também colocamos os detalhes para explicar porque escolhemos aquela pessoa em vez da outra.

São gestos, traços ou atitudes que, enfim, dão ao ser humano seu jeito único, o que joga ao chão a idéia de que os homens são todos iguais.

E quando alguém diz não tive outra opção, não ama, está apenas preenchendo um tempo vazio com alguém. E serão justamente as pequenas coisas que servirão de pretexto para o término, na hora mais apropriada.

Ensaio sobre as pequenas coisas (2)

Valorizar as pequenas coisas é a chave para a felicidade. Mas o inverso também ocorre.

Assim como valorizar as pequenas coisas é a chave para a felicidade, a felicidade também é a chave para valorizar as pequenas coisas.

Ela (a felicidade) faz tudo parecer perfeito. Quem está feliz, geralmente sob a forte embriaguez do amor, começa a reparar que o clima está ótimo, seja ele um frio de lascar ou um calor de rachar mamona. Repara nos pássaros, na brisa, no local e nos olhos da pessoa.

Não foram os detalhes que o tornaram feliz, mas a felicidade (que você já sentia) é que lhe permitiu reparar nos detalhes.

E quando você se convence que os detalhes também conspiram a favor (eles sempre estiveram lá, mas você acha que foi de propósito), é que você diz os eu te amo, quer namorar comigo, entre outras declarações.

Claro, essas declarações são só palavras. Mas podem ser detalhes que fazem toda a diferença para os felizes que nisso reparam.

Ensaio sobre as pequenas coisas (3)

Valorizar as coisas é a chave para a felicidade. Mas, em vez de abrir a porta, pode trancá-la.

Nesse exato momento, um cara aqui do trabalho se estressa com algo tão pequeno. Está dando valor a uma pequena coisa que vai ser resolvida em meia hora, de uma forma ou de outra.

Seria tão simples falar um dos sábios pensamentos do Dalai Lama: se tem solução, não tem porquê se preocupar. Se não tem solução, também não tem porquê se preocupar...

Mas para o rapaz, isso não vale. Afinal, ele dá a essa pequena coisa um tom de importância incrível. Penso em trazer um gravador e, um ou dois dias depois, mostrar a ele que realmente não tinha porquê se preocupar. Foi o valor às pequenas coisas que fez com ele às transformasse em grandes problemas, não em felicidade.

Detalhe curioso, não?

segunda-feira, outubro 02, 2006

Naquela noite

A ansiedade aumentava na mesma velocidade com que o instante se aproximava. Procurava não pensar no assunto. Já estava decidido e não queria tremer na hora H. Sabia tudo que ia falar. Estava na ponta da língua, como um ator que decora um roteiro.

Sabia também que, embora pareça, a vida não é um filme. Ele erraria toda a fala e, ao olhar nos olhos dela, esqueceria boa parte do texto, tendo inevitavelmente que depender de seu improviso. Mas não queria ter mais tempo para ensaios. Sabia que não adiantaria.

A hora se aproximava. Foi de carro até lá. Procurou no rádio músicas que o encorajassem. Por um momento, pensou que poderia dar tudo errado. Mas logo fez questão de se convencer: ela estaria ali, em frente à casa dela, no portão. Não seria desta vez que a vida lhe pregaria uma peça com os tais desencontros que só adiavam essa situação.

De fato ela estava lá, sentada, esperando. Viu-a com aquele sorriso pelo qual se apaixonara desde o primeiro momento. Depois, deixou pra trás o close na boca para contemplar o rosto lindo de menina moça pelo qual sempre suspirara.

Não conseguiu mais olhar. Suas pernas tremeram assim que ela entrou no carro. Ele olhou para o vazio, a procura de qualquer paisagem. O coração bateu mais forte. A adrenalina foi a mil.

E a primeira gota de suor gelado lhe escorreu do rosto assim que ela pegou sua mão. Sorridente, ela sabia que poderia falar com ele sem muitos rodeios. Sempre foi assim, desde a infância.

A voz dela, doce e suave, a perguntar o que você queria me falar?, ressoou na cabeça do garoto, fazendo-o ensurdecer para todas aquelas palavras que decorara. Tudo o que tanto repetiu para guardar em sua memória agora sumia diante de um grito em forma de suspiro.

Virou para ela e respirou. Em vez de oxigênio, entrou pelas suas narinas aquele aroma inconfundível, que mostrava toda a doçura da garota. Entorpecido, passou a mão em seu rosto e pensou apenas naquela frase.

Acabaram-se os textos decorados. E com um pragmatismo que nunca pensara ter, falou as únicas palavras pelas quais estava lá:

- Não dá mais. Acabou. Adeus.

Forasteiros
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