.comment-link {margin-left:.6em;} <$BlogRSDURL$>

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Solidariedade contraditória

O maior trunfo do marketing social foi ganhar o apelido de "solidariedade".

Não é a mesma coisa. Solidariedade é gratuita. No marketing social, o "auxílio" é um investimento, que procura melhorar a imagem da empresa, para vender mais.

Exemplos práticos: pulseiras coloridas, camisetas e (mais recente), o Red Product, com objetivo "solidário": 1% do lucro para a erradicação da Aids.

Logística: 1% da produção, 1% da distribuição e 1% para solidariedade. O resto? Para quem lucrou e ainda ficou com cara de bonzinho.

No caso do Red Product, os fabricantes são Gap, Armani e uma subsidiária da Nike. E o garoto-propaganda é o vocalista Bono Vox, do U2.

Vale refletir.

Assim como as marcas, o U2 "solidário" também custa caro no dia-a-dia. O ingresso do show é de R$ 300, e parte da renda (não diz quanto) é revertida para pobres. Ou seja, é uma atração que tira dinheiro dos ricos e dá para os pobres, embolsando uma parte nessa "solidária" transação. Eis o lucro na história.

Na outra ponta, vestimos pulseiras e camisetas, querendo passar para os outros o mesmo: que praticamos solidariedade. Fazemos sim é marketing social, no nível de pessoa física – gastamos dinheiro com produtos para montar uma imagem.

A questão, como explicado no começo, não é taxar o marketing social como vilão. Pelo contrário, ele é válido numa sociedade ambiciosa como a de hoje. Mas seria útil mostrar que ainda há muita distância entre uma coisa e outra.

Basta ver que seguimos e aplaudimos gente que pratica marketing social. Achamos "um saco" quem fala de trabalho voluntário, ação cidadã ou doação de caridade.

E agimos da mesma maneira: se for para gastar nosso tempo ou dinheiro, que seja com coisas em prol do nosso marketing social. Atos de solidariedade, mesmo, não achamos que vale a pena. Ficaríamos com fama de chatos e ninguém veria.

Definida essa diferença, cabe a pergunta ao leitor: será que teríamos mesmo coragem de fazer solidariedade?

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Ponto de vista

Os olhos seguiam o passeio das curvas. Definitivamente, não estavam acompanhando apenas um corpo na calçada. Se assim estivessem, seria em linha horizontal, sem muitos altos e baixos.

O que mudava horizontalmente era o zoom e o foco, conforme o corpo se distanciava, tais como na lente de uma câmera. Os olhos em si, acompanhavam meio que bêbados o rebolado, a cintura, o andar estonteante.

Abaixo deles, e pele do rosto que se contraía devido ao sorriso. Acima, a pálpebras meio fechadas e relaxadas como que em hipnose. No fundo, essa era apenas mais uma atuação dos olhos que, na falta do que fazer, repetiam um ato ao qual já se acostumaram, quase que por instinto.

A mente, no entanto, há muito tinha se desligado dos olhos, da cintura ou do rebolado. Encontrava-se em outro lugar, bem mais distante do que o corpo, o foco e o zoom poderiam alcançar.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Reveillon

Dos rituais
Veste-se chique, mas passa na praia e descalço.
Reza um Pai Nosso e pula sete ondinhas pra Iemanjá.
Fica de branco e suja no mar ou no champanhe.
Deseja felicidade e aquela coisa toda. Sequer vai ligar depois pra conferir se está tudo bem.
Promete emagrecer, enquanto se esbalda em comes e bebes.

Das esperanças
Num mesmo dia, todos felizes.
Acreditando que o ano será de mudança.
Como se a gente não mudasse todo dia.
Como se um dia, logo o primeiro do ano, fosse o marco da nova vida.

Das perguntas
Qual é o dia em que a ilusão acaba?
Quando notamos que o ritual não adiantou?
Que o tal ano é igual aos demais?

Das conclusões
Por isso prefiro o Carnaval.
Nele, sabemos que tudo é ilusão.
E que vai acabar na Quarta Feira de Cinzas.

Forasteiros
forasteiros

This page is powered by Blogger. Isn't yours?