.comment-link {margin-left:.6em;} <$BlogRSDURL$>

terça-feira, setembro 26, 2006

Tendências suicidas

Particularmente, não acredito que exista essa história de tendência suicida. Todo ser humano pode pensar nisso, a qualquer momento e por um simples motivo: suicídio é uma solução.

Não é a única solução, mas não deixa de ser uma. Com o glamour do abalo, do sentido, do mistério e do extremo. Chega a ser, ao mesmo tempo, o extremo da covardia (fuga da vida) e a extrema coragem – o ato em si.

Suicídio é hipótese em desilusões amorosas, crises existenciais, faltas e carências de todos os tipos. Mas uma hipótese tão rapidamente esquecida que não é dita nem comentada.

Poucos chegam à linha tênue, à proximidade das vias de fato – à mão na faca, ao mergulho com peso, ao topo do prédio. E os que ali chegaram (mas não foram), entendem certas coisas que passam na cabeça de um suicida.

Aí começa a diferença em relação ao resto da sociedade.

É muito comum ouvir que o cara se matou por isso ou aquilo. Não. Quase sempre (ou seria sempre?) o ato é fruto de uma série de desilusões conjuntas: em relação à sua vida, aos outros que o rodeiam, à sociedade em geral, aos amores – enfim, tudo junto e ao mesmo tempo.

Isso derruba por terra outro mito que estipulam: o de que foi um ato impensado. Pelo contrário: quem se suicida certamente já pensou na hipótese há meses (ou anos). E, durante esse tempo, foi dando novas chances à vida – como um apostador de bingo, que só vai embora quando acaba o dinheiro (ou a esperança).

A esperança final do suicida é, com o ato, também chamar a atenção. Muitas vezes, foi isso que ele precisou e não teve.

“Comparamos nossas vidas e, mesmo assim, não tenho pena de ninguém” – Renato Russo, que cansou de lutar pela vida – e entendia bem esse lance de individualismo permanente.

Mas o que melhor exemplifica isso é o bom e velho papo de bar. Meu amigo Léo que me alertou para isso. Às vezes, você senta com a pessoa e ela fica “eu isso, eu aquilo, aconteceu comigo isso”. Você pode apenas ouvir e perceber que ela sequer vai perguntar “e aí, como foi seu dia?”.

Então por que não liga para o CVV?
Simples: porque lá não há amigos, familiares. Apenas uma voz – e um ouvido – do outro lado do telefone. A proximidade não existe, quanto menos uma mudança de atitude por parte dos que cercam o “aspirante a suicida”.

Ao se suicidar, a ambição (que antes chamei de “esperança final”) é chamar a atenção dessas pessoas para fazer com que elas parem de olhar pro próprio umbigo.

É uma tentadora “solução” para acabar com sua angústia e, ao mesmo tempo, dar uma “lição” àqueles que estão do seu lado.

Com tantos argumentos e a intensa depressão que o indivíduo sente, o suicídio acaba sendo um dos poucos atos que reúnem a razão e a emoção de maneira tão perfeita.

Achar que isso é apenas uma tendência (coisa psicológica ou genética) é querer simplificar a complexidade do processo.

Forasteiros
forasteiros

This page is powered by Blogger. Isn't yours?